terça-feira, 16 de agosto de 2011

Globo dedica 3 minutos do Jornal Nacional à reportagem contra Ricardo Teixeira

É impressionante a repercussão da reportagem de três minutos exibida no "Jornal Nacional" desde Sabado a respeito da investigação policial sobre irregularidades no contrato para a realização do amistoso entre Brasil 6 a 2 Portugal, ocorrido em 2008.

Trata-se de um caso antigo, noticiado pela primeira vez em 2009. A investigação envolve diretamente Ricardo Teixeira, presidente da CBF, e alguns de seus amigos e aliados no mundo da política e do futebol.

Se a investigação, em si, não constitui novidade, o mesmo não se pode dizer do fato de a Rede Globo ter dedicado tempo de seu mais importante noticiário a ela. Por esta razão, a repercussão da notícia não foi o conteúdo em si, mas as especulações sobre os motivos que levaram o veículo a dar a informação.

Estranho? Não. Parceira comercial da CBF, a Globo vinha sendo bastante comedida há anos na área do jornalismo em investigações próprias ou mesmo na reprodução de notícias de conhecimento público desfavoráveis a Teixeira.

Está reportagem no Jornal Nacional pegou de surpresa não só a diretoria da CBF como o departamentode Esportes da Globo. Dentro da emissora, diz-se  que houve várias causas, e a maior foi a entrevista dada à revista "Piauí", que minou a blindagem dada a Teixeira. Nesta entrevista, o presidente da CBF sente-se à vontade para dizer que não teme nenhuma crítica, com exceção daquelas apresentadas pelo “Jornal Nacional”.

Mas também parece ter outro motivo: no contrato assinado entre a CBF e o canal Premiere, da Globosat, a entidade só pode fazer qualquer mudança em relação as datas e horários das partidas, em comum acordo e consultando o canal com antecedência.

Ricardo Teixeira decidiu por conta própria alterar os horários dos jogos de fim de semana, ‘matando’ de uma só vez o sábado 21h e o domingo 18h30. O Premiere não foi consultado, acabou sendo pego de surpresa e no último dia 3 de agosto foi simplesmente comunicado da decisão do presidente.

Nesse momento, a CBF estava desrespeitando o contrato e quebrando o ‘pacto’ entre Globosat e CBF.
A Globo resolveu responder na mesma moeda a decisão arbitrária de Ricardo Teixeira.

O presidente da CBF costuma dizer que quando precisa, usa o ‘saquinho de maldades’. A Globo usou o dela. Por isso fez uma reportagem desfavorável ao dirigente como retaliação por causa da quebra do ‘acordo de cavalheiros’.

Na CBF, a reportagem do Jornal Nacional, foi classificada como uma tentativa de mostrar independência. A tese é de que a emissora precisava contrariar as palavras do presidente da CBF à revista Piauí e demonstrar não estar sob o controle do cartola. Tinha que dar uma resposta à sociedade.

Porém, na confederação brasileira, a matéria foi considerada boba, com poder de fogo inofensivo, e chegou a ser comparada à série feita recentemente pela Record, ironizada na entidade. Os aliados do cartola sustentam que ele não é o alvo da investigação sobre o uso de dinheiro público no amistoso entre Brasil e Portugal. E, já que o manda-chuva da CBF foi citado na reportagem, o mesmo deveria ter sido feito com o presidente da Federação Portuguesa.

Ao mesmo tempo em que a turma da CBF nega haver estremecimento com a Globo, a emissora agora é alvo de comentários jocosos. Um deles é o seguinte: “É fácil mostrar independência quando a Globo não está negociando nenhum contrato com a CBF. Por que não mostram independência no meio de uma negociação?”

Fora da CBF, aliados do presidente do COL (Comitê Organizador Local da Copa) também avaliam que a emissora escolheu um tema lateral, que não atinge o Mundial, para fingir que bateu no dirigente.

Como vocês podem ver, há diferentes interpretações para o gesto da Globo. As divergências se dão em relação ao impacto da notícia dentro da CBF, se provocou ou não preocupação, e nas razões que a Globo teria para levar ao ar o assunto.

Mais do que os motivos que levaram a Globo a tratar do caso, para o espectador interessa saber se a emissora tratará regularmente, e com profundidade, das diferentes denúncias envolvendo a CBF e o seu presidente. Só fazendo isso, não causará surpresa quando noticiar algo a respeito.

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